#84 No tempo da intolerância
No Tempo da Intolerância é o primeiro disco póstumo de Elza Soares. As músicas, todas inéditas, revelam como a artista enxergava o mundo, a partir de composições autorais baseadas no caderno de anotações de Elza e também outras compostas por amigas do ramo, como Pitty e Rita Lee. Elza Soares dizia que teve várias encarnações em vida e me parece que a morte também não tem sido um fator limitador a ela. A maior parte das letras vem dessa espécie de diário, páginas com ideias soltas, citações e pensamentos que acompanharam Elza por décadas. No Tempo da Intolerância é fruto de uma escavação e um reencontro da cantora com todos os gêneros que ela explorou em 70 anos de carreira. Em maio de 2021, Elza Soares disse nas redes sociais dela que o trabalho seria um disco feminino, uma celebração à mulherada. Rita Lee, compositora de Rainha Africana, escreveu no livro Outra Autobiografia: Pouco antes de eu ser diagnosticada com câncer, ela me pediu uma música para gravar. A letra baixou em dez minutos. Pensei em sua figura majestosa e nasceu "Rainha Africana". Rob fez a música, fomos ao estúdio na garagem, gravamos uma demo e mandamos para ela. Tudo no mesmo dia. Lembro que tive que me esforçar mais para cantar; coisas do tumor que já estava ali. Elza, assim que ouviu, já mandou um áudio. 'Ô Rita, que prazer imenso ouvir você cantando essa música pra mim. Muito obrigada. Te adoro, criatura'. Assim como em Planeta Fome de 2019, o álbum também foi produzido por Rafael Ramos e teve direção artística de Pedro Loureiro. Elza Soares gravou No Tempo da Intolerância depois de completar 90 anos em 2020. Em novembro de 2021, em entrevista a’O Dia, Elza disse que o novo disco tem trabalhos fortes e impactantes. Posso adiantar que vamos fazer barulho, isso eu posso! Impressionante a confiança dessa mulher! Em julho de 2021, Elza entrou no estúdio para colocar a voz-guia no repertório do álbum. Em janeiro de 2022, a cantora morreu. O lançamento de No Tempo da Intolerância coincide com os 70 anos da apresentação de Elza Soares no programa de calouros de Ary Barroso. As 10 músicas do disco formam também um álbum visual. A equipe usou inteligência artificial pra retratar Elza em diferentes épocas em cada um dos videoclipes.
Elza Soares tem outra parceria bem interessante com PItty feita em 2017.
Um Circo Passa (tradução de Bernardo Ajzenberg, Carambaia, R$ 87,90, 256 págs., R$ 61,90 ebook) é um romance do francês Patrick Modiano que finalmente chega no Brasil traduzido para o português. Publicado originalmente em 1992, o livro conserva o típico ar de mistério e de flânerie (o nosso footing, ou caminhada) por Paris que marcam os grandes livros do ganhador do Nobel de 2014, acompanhados do pessimismo do pós-Segunda Guerra. Tudo isso com a narração de um jovem de 18 anos, construindo elipses de memória e descrições minimalistas.
Este é o último fim de semana para vivenciar 𝐔𝐓𝐎𝐏𝐈𝐀 𝐁𝐑𝐀𝐒𝐈𝐋𝐄𝐈𝐑𝐀 | 𝐃𝐀𝐑𝐂𝐘 𝐑𝐈𝐁𝐄𝐈𝐑𝐎 𝟏𝟎𝟎 𝐀𝐍𝐎𝐒, magnífica exposição Sesc 24 de maio. A curadoria é de Isa Grinspum Ferraz e as instalações de Eryk Rocha. A mostra propõe um diálogo poético entre uma coleção de objetos e documentos originais da coleção do homenageado Darcy Ribeiro, obras de arte contemporânea, fotos e aparatos multimídia, com vídeos diversos e uma grande instalação audiovisual (‘’𝐀𝐐𝐔𝐈 𝐄𝐒𝐓𝐎𝐔’’) criada pelo cineasta Eryk Rocha a partir de material inédito registrado em 2012. Além da instalação, será possível assistir aos filmes, com direção de Eryk Rocha, produzidos pela Aruac: 𝐄𝐃𝐔𝐂𝐀ÇÃ𝐎 𝐍Ã𝐎 É 𝐏𝐑𝐈𝐕𝐈𝐋É𝐆𝐈𝐎, 𝐈𝐍𝐃𝐈𝐆𝐍𝐀ÇÃ𝐎 𝐄 𝐋𝐔𝐂𝐈𝐃𝐄𝐙 e 𝐁𝐑𝐀𝐒𝐈𝐒. Mais informações aqui.
O Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo apresenta a Retrospectiva Geraldo Sarno que exibirá, integralmente, a filmografia do cineasta baiano Geraldo Sarno, uma das grandes referências do cinema brasileiro moderno. Já havia colocado essa dica quando a retrospectiva estava em Brasília. A mostra inédita exibe 26 filmes (9 longas, 5 médias e 12 curtas-metragens). São documentários e ficções de um diretor combativo, perseguido pela ditadura militar e cuja carreira se estendeu por mais de 5 décadas, sempre empenhado em registrar as diversas faces da cultura tradicional brasileira: a religiosidade popular; a herança cultural e espiritual afro-brasileira; a literatura de cordel; os santeiros; a memória do cangaço; o artesanato; as formas de cantoria tradicional. A filmografia de Geraldo transita por diversas frentes, nas variações entre um Brasil tradicional e um Brasil moderno. É de graça e vai até 09 de julho. Mais informações aqui.
24/06 SÁBADO
14h – Mesa 1: Francis Vogner e Mateus Araújo – Atualidades e limites de cineastas e imagens do povo (Livre)
17h – Espaço Sagrado / Iaô (16 anos)25/06 DOMINGO
14h – Os imaginários / Viramundo / Viva Cariri! (Livre)
16h30 – Coronel Delmiro Gouveia (Livre)26/06 SEGUNDA
17h – Vitalino-Lampião / Herança do Nordeste (Livre)28/06 QUARTA
16h – O Picapau Amarelo (Livre)29/06 QUINTA
16h30 – Tudo isto me parece um sonho (14 anos)30/06 SEXTA
17h – Jornal do Sertão / O engenho / A cantoria / Segunda-feira / Plantar nas estrelas (Livre)01/07 SÁBADO
14h – Mesa 2: Maria Chiaretti e Mariana Queen – Geraldo Sarno, hoje (Livre)
17h – Eu carrego um sertão / A terra queima (12 anos)02/07 DOMINGO
15h – O Picapau Amarelo (Livre)
17h – O côco de Macalé / Último romance de Balzac (14 anos)
03/07 SEGUNDA
16h30 – Jornal do Sertão / O engenho / A cantoria / Segunda-feira / Plantar nas estrelas (Livre)05/07 QUARTA
16h30 – Vitalino-Lampião / Herança do Nordeste (Livre)06/07 QUINTA
16h – Os imaginários / Viramundo / Viva Cariri! (Livre)
07/07 SEXTA
15h – Dramática popular / Semana de Arte Moderna (Livre)
17h30 – Casa Grande e Senzala/ Deus é um fogo (Livre)08/07 SÁBADO
14h – Sertânia – sessão com acessibilidade (16 anos)
16h30 – Tudo isto me parece um sonho (14 anos)09/07 DOMINGO
14h – Brasil Verdade (12 anos)
17h – Espaço Sagrado / Iaô (16 anos)
Em 2023, a 8 1⁄2 Festa do Cinema Italiano comemora 10 edições em 18 cidades do Brasil entre 22 e 28 de junho. A atriz e diretora Jasmine Trinca e o cineasta Francesco Zippel, diretor do longa Sergio Leone - O italiano que inventou a América, estarão presentes em algumas sessões.
Premiada no Festival de Cannes 2017 como a Melhor Atriz da Mostra "Um Certo Olhar" pelo filme Fortunata, Jasmine Trinca também apresenta no Brasil seu primeiro longa-metragem como diretora. Marcel! foi exibido em sessão especial no Festival de Cannes 2022, quando a atriz também fez parte do júri oficial. O filme é uma lindeza! De sensibilidade ímpar e poucas palavras. Para além de uma homenagem à sétima arte, Jasmine faz um retrato bem pessoal da maternidade, da infância e da importância da arte na vida das pessoas. Eu conversei com ela para o SP2 da TV Globo. Neste sábado 24/06, às 16h, ela participa da sessão do filme no Espaço Itaú Augusta e depois bate um papo com os espectadores.
O diretor Francesco Zippel apresenta seu filme sobre o cineasta Sergio Leone neste sábado 24/06, às 20h em São Paulo, e na sequência participa de bate-papo com o público presente. No domingo 25/06 é a vez do Rio de Janeiro. Entre os destaques estão Nostalgia, de Mario Martone, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes 2022, e A viagem de Papa Francisco, do premiadíssimo documentarista Gianfranco Rosi. O filme acompanha o sumo pontífice em duas viagens diferentes: a primeira à Lampedusa, uma ilha no Mediterrâneo, e a segunda ao Oriente Médio. Assumindo dimensões existencialistas, traçando um importante diálogo entre essas viagens e os acontecimentos do mundo, o Rossi exibiu a obra no Festival de Veneza e foi indicado como Melhor Documentário no David de Donatello de 2023. Super recomendo!