#105 A vida
“A enfermeira disse para irmos à maternidade quando a dor ficar insuportável.” Se isto não é insuportável, não sei o que é, respondi numa das pausas das contrações. É engraçado como naquele momento eu me sentia, mais do que nunca, duas pessoas. Por um minuto, eu não sabia como acolher entre meus quadris aquela torção que queria me rachar no meio. Alcançava decibéis que nunca imaginei que minhas cordas vocais e pulmões alcançariam, e não me importava que o quarteirão inteiro ouvisse. Mas dez segundos depois, num intervalo da dor, eu fazia graça da situação, ria como se aquilo tivesse sido vivido por outra pessoa em outro tempo, conversava sobre qualquer besteira. Eu me sentia numa bipolaridade natural e saudável. É dessa maneira que Eliza Capai começa o artigo dela na piauí, liberado de graça para quem não assina a revista. A cineasta conta os motivos que a levaram a decidir fazer um filme sobre o aborto dela. A partir do registro da gravidez, a diretora conversa com outras mulheres qu…
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